Força das mulheres negras no movimento antirracismo é destaque em evento da CEIR
14/10/2020 16:33
Com uma mensagem muito forte do papel do movimento das mulheres negras contra o racismo no Brasil, o evento de Lançamento do Grupo de Trabalho (GT) Pesquisa Antirracismo da Comissão Especial da Igualdade Racial (CEIR) apresentou as duas obras que serão objeto de estudo neste semestre. Na sexta-feira (02), integrantes do GT e o autor de um dos livros a ser analisado debateram temas ligados ao racismo e à busca por igualdade.
A secretária-geral adjunta da OAB/RS, Fabiana da Cunha Barth, abriu o evento afirmando que não basta simplesmente acreditarmos na igualdade, temos que agir de forma antirracista. “Quanto mais colegas advogados e advogadas se somarem a essa pauta, melhores condições teremos de construir uma sociedade mais justa e fraterna, de acordo com o objetivo do nosso Estado Social, assim definido na Constituição Federal de 1988”, reforçou.
A diretora de cursos permanentes da Escola Superior de Advocacia da OAB/RS (ESA/RS), Fernanda Osório, salientou a educação como forma eficaz de combate ao racismo: “É fundamental o papel da educação, das instituições, em especial da OAB/RS e da ESA/RS no combate ao racismo institucional, estrutural. São espaços de discussão qualificados, como esse, que proporcionam conhecimento de forma científica, técnica. Parabenizo o trabalho que a comissão desenvolve”, elogiou.
A presidente da CEIR, Karla Meura, enfatizou a importância da busca coletiva por igualdade: “Que essa luta seja uma construção nossa, que as vitórias sejam refletidas na nossa população, mexendo nas estruturas, melhorando não apenas a vida das pessoas negras, mas da sociedade como um todo. Nesse entendimento, o GT tem um papel muito especial, de ser mais um elemento potencializador das ações institucionais de igualdade da OAB/RS”, garantiu.
A coordenadora do GT Pesquisa Antirracismo da CEIR, Patrícia Oliveira, explicou a motivação do grupo: “O racismo passa de uma ação individual para uma ação estrutural, ligado a toda e qualquer esfera das nossas vidas, seja acadêmica, profissional e pessoal, todos os dias. Por isso, é fundamental termos o conhecimento para iniciar outro movimento: o antirracismo, essa é a proposição do nosso grupo. Queremos estudar e crescer, tanto intelectualmente como moralmente”, ratificou.
“Quando a mulher negra se movimenta, toda sociedade se movimenta”, Angela Davis.
O advogado e escritor Lúcio Almeida iniciou sua fala ressaltando o que, para ele, vem acontecendo no mundo: o processo de rompimento do silêncio, sobretudo da mulher negra, citado pela escritora portuguesa Grada Kilomba: “Vemos esse processo de rompimento do silêncio da colonização no mundo todo. Na academia, chamamos de processo decolonial. Romper com a máscara de Anastácia, que Grada fala, para erguer a voz”, explicou.
Almeida apontou o movimento das mulheres negras no Brasil como uma verdadeira revolução social: “Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a mulher negra é a base da nossa sociedade. Como disse Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda sociedade se movimenta”. Estamos vendo uma caminhada que não tem mais volta, com as mulheres negras erguendo a voz e, claro, assustando muita gente. O próprio homem negro repete o machismo, o sentimento de dominação masculina dentro de casa, mas esse é o grande movimento social do nosso país. Nós, homens, devemos prestar auxílio, estarmos juntos nessa caminhada”, reforçou.
Almeida completou, ainda, que a resistência das mulheres negras é histórica: “Isso vem lá de trás, com as nossas mães e avós; essa luta não é novidade para nós. A gente não está começando isso agora, são mais de 300 anos de resistência, de mulheres negras que estão no anonimato, mas que estão tendo sua luta honrada pelas mulheres negras de hoje”, defendeu.
Livro
Sobre a sua obra Direito Constitucional às Cotas Raciais: a Contribuição de Joaquim Nabuco, objeto de estudo do GT, o autor fez uma crítica aos movimentos que se dizem pela igualdade, mas que ainda querem silenciar os negros: “Joaquim Nabuco era um homem branco que, na minha visão, não deixava o negro falar. Ele, inclusive, se coloca contra qualquer política racial em seus discursos no Parlamento. Joaquim Nabuco é a representação do branco bem-intencionado, mas que não quer perder o controle. Nós temos que ser os protagonistas dessa luta, a população negra tem que falar”, afirmou.
Igualdade social
“Não acredito no fim do racismo, pelo contrário, ele deve aumentar. Temos mais negros na academia, nas instituições, o que significa que os casos de preconceito vão aumentar, pois, quando o negro não está no lugar de subordinado, ele incomoda. Queremos, então, igualdade social, uma casa decente, um carro, reconhecimento e educação de qualidade, isso muda a vida da população negra. É preciso materializar a vida do negro através de políticas públicas eficientes”, frisou.
A integrante da CEIR, Arícia Santos, fez uma análise sucinta sobre a segunda obra a ser estudada pelo GT ainda este ano: Racismo Estrutural, de Silvio Almeida. O livro é dividido em cinco capítulos: 1) Raça e racismo; 2) Racismo e ideologia; 3) Racismo e política; 4) Racismo e direito; 5) Racismo e economia, os quais a advogada elencou e fez comentários a respeito.
Arícia ressaltou o colorismo e como ele dificulta o reconhecimento e o pertencimento da própria pessoa negra: “Atualmente, temos o colorismo. Aqui na Região Sul, nós nos identificamos como negros, inclusive com a tez clara, pois sabemos das nossas origens e a miscigenação não é tão latente. Mas, no restante do país, há uma dificuldade em se identificar e se caracterizar como negro”, afirmou.
A também integrante da CEIR, Priscila Vargas Mello, foi a mediadora dos debates da noite.
14/10/2020 16:33