As olimpíadas refletem as escolhas de cada nação. Num mundo globalizado, em que as fronteiras se confundem com o mercado, com as relações virtuais e com a mistura de culturas, as olimpíadas ainda são um dos poucos territórios onde cada povo se identifica enquanto Nação.Conceitos em transformação num mundo cada vez mais sem fronteiras.

Emocionamo-nos com a superação e determinação dos nossos atletas e nos decepcionamos e nos frustramos com as derrotas e falhas. Sentimo-nos como parte de cada um, vibramos, torcemos, sorrimos e choramos. A autoestima dos brasileiros fica condicionada ao desempenho de todos esses guerreiros, verdadeiros cidadãos. Emociono-me com a capacidade de superação desses atletas, mesmo os que são desclassificados ou derrotados, pois nossa pátria amada  Brasil faz muito pouco para que nossos heróis cheguem onde chegaram. Só são lembrados a cada quatro anos. Superam tantas barreiras que devemos reverenciá-los e nos orgulhar MUITO de cada um deles.

A primeira barreira é nascer em um país que não valoriza o esporte na sua essência, na fase inicial da vida, que é a infância. País que só investe nos atletas depois que apresentam algum resultado, com raras exceções de ações pontuais de clubes que investem desde cedo em algumas categorias. Se não fosse nosso judô, que posição estaríamos no quadro de medalhas? Isso sem falar na falta de patrocínios e locais adequados para treinamento.

Não há um projeto nacional eficiente e permanente de estímulo ao esporte. Recentes reportagens mostraram a falta ou o estado de abandono das áreas esportivas das escolas, onde tudo começa. Em alguns casos, com um local letal que ceifa a vida de crianças e jovens por falta de manutenção e de profissionais capacitados em uma das atividades mais universais, saudáveis e transformadoras, que é a educação no esporte.

A rede escolar tem que ser o primeiro espaço indutor para despertar o interesse pelo esporte, em todas as modalidades. O esporte ensina disciplina, superação, limites e comprometimento e estimula a vida saudável. É um importante instrumento para desenvolver as capacidades não cognitivas, que estão se tornando um grande diferencial na educação para enfrentar a vida competitiva na era contemporânea. Há grandes projetos e recursos para obras de complexos esportivos, estádios e infraestrutra nas cidades, com custos astronômicos.

Mas onde estão os projetos objetivos e eficazes na formação de atletas? O maior investimento deve ser no desenvolvimento humano, desde a primeira infância, com educação de qualidade e estímulo ao esporte. Além de candidatos à medalha, estaremos investindo na formação de uma nação saudável e capacitada para a vida. Só com um projeto consistente do Poder Público e a união de forças com o setor privado e o ativismo da sociedade civil vamos poder superar essa posição medíocre no ranking esportivo e na educação. Acorda, Brasil, já perdemos muito tempo.

Denise Souza Costa - Consultora da UNESCO

Presidente da Comissão de Educação da OAB/RS